Ir para conteúdo

Sobrinhos disputam herança de R$ 300 milhões de ex-vice presidente do Itaú


Renato Roberto Cuoco faleceu em 2021, aos 77 anos de idade, em São Paulo. Ex-vice presidente de operações da área de tecnologia da informação do banco Itaú, o engenheiro não deixou filhos ou um testamento, mas uma herança considerável: um patrimônio de cerca de 300 milhões de reais em imóveis e investimentos financeiros.

Cuoco foi um dos fundadores da Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. Em 1989, ele auxiliou na digitalização de quadros de mais de 2.000 pintores atuantes no país e era membro da Diretoria Executiva do Itaú Cultural, segundo o site da instituição. A herança do executivo é disputada na Justiça entre três sobrinhos.

Chuvas no RS: Vídeos mostram antes e depois de desmoronamento de rua em Gramado

Batida em SP: Saiba como é a cela onde motorista do Porsche está preso em Tremembé

Lauro Jardim: Morte de deputada e eleições mexem tabuleiro na Câmara

Os irmãos Aberto Renato Cuoco e Felipe Renato Cuoco, sobrinhos diretos do executivo, receberam toda a herança após a morte do tio. Eles são filhos do irmão de Renato. Andrea Costa Motta Salino é sobrinha por parte da ex-esposa de Renato, Letizia Cuoco, também já falecida, em 2013, e pede na Justiça o reconhecimento de paternidade socioafetiva com o engenheiro, para ser reconhecida como herdeira. O processo começou em 2022 e a última decisão, de 2023, negou o pedido de Andrea.

— Eu não passava o Natal com o meu pai (biológico), passava com ele — diz Andrea. Ela conta que, desde criança, passou a dividir o tempo entre a casa dos pais biológicos, na Mooca, Zona Leste, e a dos tios Renato e Letizia, seus padrinhos, em Perdizes, Zona Oeste da capital paulista.

— A Andrea tinha uma relação conturbada com o pai biológico e encontrava segurança na casa dos tios. Viajava com eles praticamente todos os finais de semana — diz a advogada Giovanna Barros de Carvalho, do escritório Cortez de Carvalho e Furegate, que a defende.

— Ela comprava presente de Dia dos Pais para o Renato e tem diversas fotos dele dançando como se fosse o avô das filhas dela nas festas de 15 anos das meninas — segue a advogada.

Renato e Letizia passaram a pagar a escola e, posteriormente, a faculdade de direito de Andrea, que trabalhou por um período no Itaú. Hoje, aos 49 anos e mãe de três filhos, ela conta que depois que deu à luz o segundo filho, no início dos anos 2000, parou de trabalhar e começou a ter a vida financeira custeada por Renato.

— Ele era a minha base emocional e também financeira. Pagava as faculdades de medicina dos meus filhos. A gente passava os finais de semana juntos nas casas que ele tinha em Valinhos (interior paulista) e no Guarujá — diz Andrea.

No processo judicial, a defesa afirma que Renato bancava o convênio médico de Andrea, IPVA de automóveis, duas empregadas domésticas, motorista particular e fazia depósitos mensais para o pagamento do cartão de crédito, em montante que por vezes ultrapassava R$100 mil.

Renato faleceu em 2021, após enfrentar dois cânceres. Andrea afirma que, durante a pandemia, Alberto e Felipe se aproximaram do tio e passaram a cuidar da saúde do executivo. Na versão dela, após o falecimento do engenheiro os sobrinhos picotaram documentos que estavam no apartamento de Renato, em Perdizes. Andrea também acusa os primos de se aproveitarem do estado de saúde debilitado do tio para ter acesso às finanças dele.

A defesa dos sobrinhos afirmou para a Justiça que, na picotagem de documentos apontada por Andrea, a dupla não destruiu documentos relevantes, mas apenas se desfez de "papelada acumulada ao longo dos anos" no apartamento de Renato (veja mais sobre a defesa dos sobrinhos abaixo).

Um inquérito policial chegou a apurar uma acusação de fraude na troca de beneficiários de previdência privada e aplicações financeiras que o executivo deixou em fundos de investimento. O banco Itaú, no entanto, informou para a polícia que não identificou indícios de fraude nas operações financeiras sob a titularidade de Renato e a investigação foi arquivada.

— Ele começou a ficar doente em 2019, quando teve câncer de próstata. Na pandemia, fiquei no Guarujá e o Alberto começou a ficar na casa do meu tio, a se oferecer para ajudá-lo. Em 2021, sofreu uma queda e foi parar no hospital. Foi aí que ele (Alberto) me contou que o tio estava com câncer novamente, com metástase cerebral — diz Andrea.

Do patrimônio de Renato, a sobrinha recebeu um seguro que estava em seu nome, de R$ 3 milhões, segundo o processo judicial.

— O que mais sinto falta é desse cara que podia ligar e conversar com ele sobre tudo. Depois da morte do meu tio, minha vida virou de ponta cabeça. Dispensei funcionários, cortei convênio e o meu marido, que é médico, triplicou o trabalho para pagar as faculdades dos nossos filhos — afirma Andrea.

Alberto e Felipe foram procurados pelo O GLOBO por meio do advogado Pedro Luis Castro, que os defende no processo, que corre em segredo de Justiça. Eles não quiseram se pronunciar.

A reportagem, no entanto, teve acesso à íntegra da disputa judicial. A defesa da dupla afirma no processo que os dois eram próximos do tio desde que o pai dos irmãos faleceu, quando ambos eram menores de idade. Desde então, Alberto e Felipe teriam estabelecido uma relação de "afeto, apoio emocional e também material" com Renato.

Com a morte do tio, os sobrinhos teriam pesquisado a existência de um testamento, não encontrado, e então a dupla assumiu as responsabilidade para a divisão da herança. A defesa deles alega que não existia relação paterna entre Renato e Andrea. O relacionamento seria apenas o de tio e sobrinha, diz o texto assinado pela defesa.

O apoio financeiro que o executivo dava para Andrea também se estendia a outros amigos e familiares do banqueiro. Renato fazia doações regulares a ao menos dezoito pessoas, incluindo Andrea. Os montantes mais significativos, no entanto, eram para a sobrinha — em um ano, chegaram a mais de R$ 400 mil.

— Andrea jamais morou com os tios, sequer foi por eles criada, educada ou tratada como filha [...] (Renato) tratava-se de um homem culto, com pleno acesso à informação, inclusive, para elaborar um testamento. Se não o fez, foi porque quis, porque desejou que seu patrimônio fosse para seus legítimos herdeiros, seus sobrinhos consanguíneos — diz a defesa da dupla.

Em setembro de 2023, a Justiça não atendeu ao pedido de reconhecimento de paternidade de Andrea. Segundo a juíza, não foi possível comprovar relação de parentesco além da de tio e sobrinha.

A decisão afirma que ainda que haja indícios de que Andrea tinha relação próxima, "até mesmo única" com o tio, o fato não permite caracterizar vínculo de paternidade. Sobre as doações, a Justiça aponta que a generosidade do executivo "alcançava outros sobrinhos, familiares, e até pessoas com quem não tinha vínculo de parentesco".

O texto diz também que a ação de Andrea tem "enfoque quase exclusivamente patrimonial" e que ao longo do processo ela "pleiteou reiteradamente que fossem bloqueados os bens que pertenciam ao falecido, mas nunca formulou pedido para que se alterasse seu registro civil em decorrência da suposta relação de filiação".

A defesa dela recorreu, solicitando a anulação da sentença, já que, segundo os advogados de Andrea, a juíza não autorizou a realização de um estudo psicossocial, em que um psicólogo realizaria um diagnóstico da dinâmica familiar que existia entre ela e Renato. O caso aguarda a nova decisão da Justiça.

0 Comentários


Comentários Recomendados

Não há comentários para mostrar.

×
×
  • Criar Novo...